. Rosas & Lírios: o céu e o inferno entraram em guerra. As armas? Almas humanas.

Um blog que tem sempre uma história rolando. A história atual é Rosas & Lírios, um conflito entre o céu e o inferno pela liberdade e pela posse do universo.

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O sol é minha enegia e o calor, meu combustível. O céu azul é meu sorriso mais eterno, e as penas de minhas asas foram esparramadas ao redor do teto do mundo; são as nuvens, às vezes brancas e puras, às vezes negras e corruptas. Não pude aprender a amar o frio, a noite ou a chuva - e no entanto, eles me amam mais que a tudo. E seus presentes são sempre as palavras.

Sunday, February 25, 2007

Capítulo VI - Início.

- Péssimo.

Christine desceu do cavalo com uma expressão desanimada. Os alvos estavam praticamente intactos. Não foi muito difícil para Christine imaginar as cabeças de Louis e Lorenzo sendo cortadas pelas espadas dos anjos. Um arrepio passou pela sua espinha e ela sacudiu a cabeça. Louis reclamava de alguma coisa.

-... eu não sou assim tão ruim, veja bem, mas esses arcos são simplesmente péssimos! A madeira...
- É de primeira classe de iniciantes, se tu não consegue atirar com um arco desses, não coseguirás atirar com arco nenhum! Louis, pára de reclamar como se tu fosse uma criança! Tu sempre foi ruim em batalhas em geral, sempre perdeu pro Lúcifer e pra mim porque tu não é capaz de manejar uma arma! E muito embora na primeira fase das batalhas eu não pretenda te envolver diretamente na briga, é de primordial necessidade que tu saiba pelo menos manejar uma espada, e tu não consegue nem sequer segurar uma sem cair pra um lado.

Louis olhou para Christine um tanto chateado. Ele sabia que sempre fora ruim em batalhas, mas ela não precisava ser tão cruel... Se qualquer outra pessoa tivesse dito à ele metade do que ela tinha acabado de falar, ele provavelmente teria cortado todo o tipo de relações com a criatura, mas ele simplesmente não conseguia ficar irritado com Christine, muito embora a recíproca não fosse verdadeira. Isso era bem claro nos olhos dela naquele exato instante.

- Olha, Christine... - Lorenzo interrompeu os pensamentos de Louis de uma forma um tanto tímida - Eu sei perfeitamente que tu tá tentando nos treinar, que se importa conosco e não quer que a gente morra na primeira batalha, mas...
- Mas?
- Arcos são coisas pré-históricas! Tu tem praticamente um arsenal no teu porão, por quê então não ensina a gente a atirar? Balas são bem mais rápidas que flechas e bem mais mortais, também!
- Acredite-me, balas não matam anjos. Eu nunca entendi a lógica disso, mas não, balas não matam anjos. Eu até poderia ensinar vocês a atirar, mas seria inútil. Existe uma espécie de feitiço em cada flecha que se usa, que é a única coisa que mata um anjo. Espadas também. Há uma escrita em cada espada destinada a matar anjos, e ela é feita especificamente pra isso. Não mata nada além de anjos, e se não for esse tipo de espada, não mata anjos.
- Então tu quer dizer que existe um tipo específico de flechas e espadas que matam anjos?
- Não. De espadas sim, de flechas não. Mas uma flecha só mata um anjo se trespassar todo o corpo dele, o que, diga-se de passagem, não é difícil. O corpo de um anjo é extremamente frágil e se machuca com enorme facilidade. Uma bala não mata um anjo porque não trespassa o corpo dele. Uma espada sem feitiço não mata um anjo porque ela não pode ficar no corpo do anjo até a decomposição do corpo dele, coisa que leva cerca de meia hora. Uma flecha é a única coisa que mata um anjo sem feitiço.
- Entendo. Então eu vou ter que aprender a manejar isso aqui de qualquer jeito?
- Isso aí e uma espada. Ou isso ou provavelmente não vais durar meia hora de batalha real, provavelmente.
- Não deve ser tão difícil assim apreder a manejar uma espada... Meu avô tem uma esgrima e eu até que me dou bem com ela, é uma espada leve e fácil de ser usada...
- O problema é que não são exatamente espadas de esgrima que tu vai ter que aprender a manejar. É uma dessas.

Christine desembainhou a própria espada. Ela adorava aquela espada, em especial por causa da circunstância em que a tinha ganho. Era uma espada enorme, de ouro, com seu nome gravado nela. A empunhadura era de um azul metálico, com um lírio em ouro branco nela. Christine ficou a admirar sua espada durante um longo tempo. Depois, girou-a no ar e voltou a pegá-la pela empunhadura. Lorenzo fez cara de impressinado. Louis parecia profundamente desanimado enquanto olhava para aquela espada. Ela entendia perfeitamente os seus motivos.

- Oras, ela parece bem leve, pelo jeito que tu girou... - Lorenzo pegou a espada da mão dela delicadamente. Caiu para a direita por causa do peso e Louis precisou pegá-lo antes que ele desse de cara no chão. - Como... como tu consegue segurar isso?
- É a minha espada. Foi feita pra mim, não pra ti. Ninguém além de mim jamais conseguiria manejar essa espada. A bem da verdade, existe mais uma pessoa que seria capaz de manejar essa espada, porque a minha espada simplesmente decidiu que vai com a cara dele. O problema é que ele não sabe manejar espadas. - Christine olhou para Louis. Ele baixou a cabeça um tanto envergonhado.
- Eu não consigo... não sou bom nessas coisas, tu sabe bem disso.

Christine ia retrucar e fazer uma piadinha, mas poupou palavras sobre isso. Passou a frente de Louis e Lorenzo e fitou o céu incisivamente, com uma expressão de absoluta fúria. Louis mudou também sua expressão, e da vermelhidão da vergonha passou a seriedade absoluta. Lorenzo fez cara de quem nada entendia e olhava de um para outro, sem fazer idéia do que acontecia ali. De repente, um ponto minúsculo no sol brilhante finalmente despontou. Christine sabia perfeitamente o que era aquele ponto. Lorenzo continuava a olhar de Louis para Christine sem entender coisa alguma, e ela imaginou que ele deveria estar se sentindo um imbecil. O ponto começou a tomar forma rapidamente. Vinha na direção deles, e ficava cada vez mais nítida a imagem de um anjo. Um anjo de asas grandes e brancas, com uma bainha vermelha segurando uma espada de empunhadura laranja. O gosto dele sobre combinação de cores sempre tinha sido um tanto duvidoso. Mais um ponto negativo sobre ele. Como ela pudera...?

- Ora, vejam só, Christine! E Louis! E o meu alvo... É só impressão minha ou ele é teu protegido, Christine?
- Grande conclusão, Michael. Chegou a ela sozinho ou precisou de ajuda?

Thursday, February 15, 2007

Capítulo V - Passado.

Christine abaixou a cabeça com um tom pesaroso e um silêncio inquietante desceu sobre as cabeças de todos os presentes. Louis e Lúcifer pareceram querer dizer alguma coisa. Lorenzo, curioso, interrompeu o silêncio:

- O que afinal de contas saiu do casulo?
- Eu te corrigiria e diria quem, mas na época foi uma coisa mesmo. - Louis e Lúcifer olharam Christine com uma expressão que Lorenzo confundiu com pena - As almas humanas e os anjos não sabiam muito bem o que pensar, mas se podessem dizer alguma coisa, eles diriam: aberração. Não foi o que disseram os dois anjinhos queridos do Éden. Os olhos dos dois se iluminaram tanto quanto o casulo que acabara de abrir, os dois correram até a "coisa" e gritaram, felizes, que ela era a luz. Deus olhou para aquele anjo tão diferente e sorriu. O anjo tinha todo o aspecto de uma menininha: cabelos longos e negros, cacheados, olhos verdes em fendas e calmos, a pele nem muito branca nem muito escura, o corpo de uma menina de seus oito anos de idade, que era, em termos terrestres, a idade que se daria aos anjinhos. Lúcifer e Louis abraçaram-se na rescém nascida e sorriram mais radiantes do que nunca. Mas as almas humanas e os outros anjos (que tinham todos o aspecto de homens) ainda achavam que ela era algo como uma aberração, um demônio. Isso era perfeitamente visível no olhar deles. Todos tremeram de medo quando a anjinha (porque ela também tinha asas brancas e a marca do lírio) levantou as duas mãos, achando que ela podesse fazer mal às suas crias queridas, mas tudo que ela fez foi colocar as duas mãos sobre as cabeças dos dois, em um gesto de proteção. Deus sorriu e pegou as duas mãos da pequena, dando-lhe o nome de Christine. E apesar da surpresa de todos, ela também foi morar na Torre. Dessa forma os três começaram a crescer, coisa que não acontecera até agora. E Christine também acabou por conquistar a confiança dos homens e dos anjos. E quando o coração de todos tinha se aberto para as anjas, outras mulheres começaram a nascer como anjos. Lúcifer era dos três o mais belo e brincalhão; Louis era a personalização da seriedade; Christine era a inteligência e o sentimento materno, e foi assim que cuidou dos dois amigos, apesar de os dois serem mais velhos que ela. Quando algum dos dois tinha medo, ou se feria, ou se entristecia, vinham logo até ela, que sempre os abraçou e os envolveu com suas asas brancas, tão brancas como a própria pureza.
- A Christine foi a luz das nossas vidas, - e embora o Lúcifer, por ser o primogênito, fosse o favorito do Senhor, ela sempre foi mais forte que nós dois juntos. E era meio mãe, meio irmã, meio amiga. Não vá pensar, por causa disso, que ela não aprontava das dela também, ou não aprontava com a gente. Nosso maior passatempo era sentar nas nuvens e olhar os humanos, andando lá em baixo, fazendo as suas coisinhas; todos nós tínhamos uma ternura muito grande por tudo aqui em baixo. Nosso maior sonho era, quando fôssemos já maiores, "adultos", como se diz aqui na Terra, sair viajando pela Terra e ajudando os humanos a realizar seus maiores sonhos e fazer suas maiores descobertas.
- E vocês agora tão realizando esse sonho?
- Não. - Lúcifer tomou lugar na narração e se tornou mais do que sério - Nosso sonho foi impedido por dois fatores: Deus e os humanos. Mais Deus do que os humanos, diga-se de passagem.
- Como assim?
- Houve uma briga. Na nossa época de "adolescentes", os homens começaram a matar em nome de Deus e nós, os três anjos que mais amavam os humanos lá no Éden, nos revoltamos com isso. O primeiro a perceber a gravidade da situação fui eu. Eu discuti com Deus, e o Michael, que era um puxa-saco de primeira mão, me hostilizou e lutou comigo. Deus, que não estava em um dos seus melhores dias, resolveu ajudar o Michael quando ele tava prestes a perder pra mim, e eu fui atirado ao Centro.
- Depois, foi a minha vez. - Christine levantou a cabeça pela primeira vez desde que Lúcifer começara a falar. - Eu sabia que o Lúcifer tinha razão quanto aos humanos e quanto a inércia de Deus, então eu resolvi falar com ele, mas com calma. Eu não sou muito de perder a calma, então achei que eu talvez podesse convencer o Todo Poderoso a (pelo menos) deixar o Louis e eu descer e ajudar as pessoas. Eu não falei nada sobre o Lúcifer, porque o Senhor, em um ataque de fúria, tirou dele as asas e a marca do lírio, (coisas que não podem ser revertidas e que pra anjos normais são mortais) e o mandou direto pro Centro. Eu comecei a me irritar com o que Deus dizia, mas ao invés de ele fazer comigo o mesmo que fez com o Lúcifer, ele simplesmente me expulsou da Torre. Eu fugi do Éden e fui pra Terra, contra todas as regras e todas as ordens. O Lúcifer soube disso e subiu, me levou pro Centro e me mostrou que tinha criado asas próprias, semelhantes às asas de um animal que os humanos chamavam de morcegos. O Lúcifer também me contou que algumas almas iam pro Centro injustamente, mas essas poderiam ser recuperadas caso um anjo ouvisse todos os seus pecados e o abençoasse. Óbviamente, eu servia a esse propósito, então por isso não desisti de ser um anjo. Ao longo do tempo outros anjos se rebelaram e tiveram as asas e a marca confiscados pra sempre. Então esses anjos vinham até o Centro, e ganhavam novas asas e uma marca nova: a rosa.
- Mas por quê a rosa é o símbolo do inferno?
- Porque foi uma flor que o Lúcifer criou. Ele estava brincando, um belo dia, no Éden, e resolveu fazer uma flor diferente, e criou a rosa vermelha, pra representar o amor e a ligação de sangue que dois amantes tem. As rosas foram criação do Lúcifer.
- Não foram uma simples criação minha. Foram presentes pra ti. - Louis pareceu bastante irritado com essa afirmação.
- Essa parte não vem ao caso.
- É por isso que as rosas são tuas flores favoritas?
- Não. Elas são minhas flores favoritas porque são o símbolo não somente do amor, mas porque são o símbolo do meu povo.
- Mas não é o Lúcifer que é o grande imperador?
- Forçosamente. - Lúcifer fez uma cara contrariada - Os anjos caídos não gostam de mim porque eu supostamente levei a Christine à queda, e as almas humanas não gostam de mim porque pensam que eu não ajudo elas por não querer. Foi a Christine que me declarou imperador do Centro, não eles.
- Eu não poderia cuidar de tudo lá dentro; eu só posso dar as bênçãos, e também fiz a promessa de guiar os anjos em uma possível guerra, mas não tenho capacidade de cuidar de brigas ou dar asas e marcas pra todos os anjos que desertam do Éden.
- Me sinto mais esclarecido. Mas eu ainda não entendo uma coisa...
- O quê? - Lúcifer parecia irritado por não poder se livrar de tudo aquilo de uma vez. Christine lhe fulminou com o olhar.
- Não entendo o porquê de o Louis e o Lúcifer não se darem bem, se eles eram amigos de infância.
- Essa também é uma longa história, que eu conto outro dia pra ti. Agora eu preciso que o Lúcifer volte pro Centro e avise meu povo que em breve eu vou descer e organizar todos e também preciso começar a treinar vocês dois. - Christine apontou pra Louis e Lorenzo. - Vocês precisam saber se defender, e eu quero o Louis como meu comandante no exército, então é bom que vocês se puxem muito, nós temos uma guerra pela frente.
- Olha, Christine, eu não acho que seja uma boa idéia... - Christine interrompeu Louis e se virou pra Lucifer:
- Lúcifer, te manda, já! As coisas aqui em cima eu posso resolver sozinha.
- Sim senhora.

Lúcifer abriu um novo buraco negro, só que desta vez o buraco tinha a forma de uma cruz invertida. Christine riu disso.

- Como tu é desaforado.
- Ah, qual é, Ele me expulsa de lá de cima sabendo que eu tenho razão e não espera que eu implique com ele de vez em quando? Haha, sonhou. Fui! - E sumiu na cruz.
- Treino. Primeiro com cavalos. Eu vou ficar com o Christopher, o Louis fica com o Marcel e o Lorenzo escolhe um dos cavalos do meu pai. Nenhum deles tem nome ainda, tu pode fazer isso por mim, Lorenzo.
- Ok.

Capítulo IV - Explicações.

- Como assim não vou durar mais três meses?
- Olha, meu amigo, não faço nem idéia de quem tu é ou qual é teu nome, mas de uma coisa tu pode ter certeza: tu tá envolvido em uma guerra entre anjos e demônios, mais especificamente entre a elite do Centro e o Todo-Poderoso, na qual as armas mais usadas são as almas humanas. Tu é um humano, um mero e simples humano. Como tu pode sobreviver?
- Lúcifer, quer parar com isso? Ele está protegido por ti, - e Christine lhe lançou um olhar fulminante - pelo Louis e por mim. Ele pode sobreviver a essa guerra maluca e sem sentido.
- Sem sentido? - Louis levantou a voz - Christine, nós lutamos pelos nossos ideais! E não vem falar que a guerra é sem sentido, tu foi um das causadoras da guerra!
- Como tu pode dizer que nós lutamos pelos nossos ideais? Tu foi o único que...
- PÁRA! Eu não tô entendendo nada aqui...
- Hey, garoto, como tu te atreve a gritar comigo, o grande Lúcifer, e o pior, com Christine, que tá acima de mim?
- Lúcifer, não te mete. Levanta o dedo pra falar, só fala se prestar, e se eu te der permissão.
- Sim mamãe.
- E pára com essas piadinhas imbecis. Isso é sério.
- Sim mam... Desculpe. Desculpe! Não me mata! - Lúcifer se encolheu, Lorenzo riu.
- Tudo bem. É uma longa história. Tudo começa bem no início da criação...

Christine contou sobre o início dos tempos para Lorenzo, que estava boquiaberto. Quando ela finalmente chegou ao fim de toda a criação, Lorenzo olhou para ela, ainda um tanto confuso:

- Mas a criação do inferno não deveria ter resolvido todo o problema de as almas más incomodarem?
- Resolveu.
- Então porque da guerra?
- Calma. Eu avisei que a história era longa.
- Então continue por favor.
- O Lúcifer conhece essa parte da história melhor que eu. Por favor, Lúcifer.
- Tudo bem. Algum tempo depois de ter criado os anjos, Deus achou que esses precisavam de instrução, e começou a ensinar-lhes (até como passatempo) as coisas sobre a Terra, os humanos, o próprio Éden e sobre o inferno, que naquela época, por só ter almas que vagavam sem muita consciência da própria existência, era só inferno mesmo. Ganhou o apelido de Centro pelos estudantes, ou seja, os anjos. Ah, uma coisa: os anjos nascem de coisas parecidas com casulos com a forma de lírios, que ficam pendurados na Árvore da Vida. As almas humanas também se criam na árvore da vida, pra só mais tarde descerem e nascerem, aqui na Terra. O casulo das almas humanas tem a forma da Terra. Uma curiosidade pra todos os anjos que estudavam era também o maior mistério dessa árvore: os três primeiros casulos de anjo que foram criados, depois de oito anos terrestres, ainda não tinham se aberto. Oito anos terrestres é algo em torno de dezesseis anos celestes. Falando em termos terrestres, no oitavo dia do oitavo mês do oitavo ano de criação dos anjos, o primeiro casulo brilhou (como acontece com os casulos que vão abrir) e de lá de dentro saiu um anjinho muito pequeno, menor que o normal até, mas muito, muito bonitinho. A única palavra pra descrever aquele anjinho era perfeito. Todos os anjos se encantaram com ele, mas mais se encantou o próprio Deus. Era um anjinho de cabelos bem pretos, meio arrepiados, os olhos azuis como o céu visto da Terra, em fenda, com um corpinho muito bonitinho e uma carinha simplesmente linda. E Deus deu um nome pra esse pequeno: Lúcifer - nascido da luz. Lúcifer passou a morar na Torre: a moradia de Deus. Era um menininho esperto e muito querido por todos os anjos e todas as almas humanas que migravam pro Éden depois da morte. No ano nove, o segundo casulo brilhou e abriu. Dali nasceu um anjinho também muito bonitinho, com o cabelo também bem preto mas arrumadinho, os olhos também azuis, com o físico mais fortinho que o de Lúcifer, e com uma expressão já bem séria. Lúcifer imediatamente achou que aquele anjinho era por certo muito parecido com ele, e que os dois poderiam ser bons amigos. Deus também simpatizou com esse, e lhe deu o nome de Louis, e também o levou pra morar na Torre.
- Lúcifer, posso continuar um pouquinho?
- Por favor, Louis. Já tô com a garganta seca.
- Eu vou continuar na mesma linha de narrativa do Lúcifer, pra não te confundir, Lorenzo. Agora, só faltava um último casulo, que todos esperavam com uma ansiedade muito grande. Ao longo do tempo, Lúcifer foi se tornando um menino bem humorado mas que aprontava bastante, e o Louis virou uma espécie de "freio" pra ele. Era estranho o fato de que os dois não cresciam muito, porque os anjos cresciam bem rápido em termos de tempo terrestre. Quando era perguntado pra qualquer dos dois se eles não queriam crescer logo, eles sempre respondiam que faltava a luz. Todos ficavam muito intrigados com isso, inclusive o próprio Deus. Mas eles nunca explicaram nada sobre isso. Um dia antes de completar o décimo dia, do décimo mês, do décimo ano da criação dos anjos (ou seja, da colocação dos primeiros casulos na Árvore da Vida), Louis e Lúcifer se recusaram a dormir na Torre e passaram não somente o dia, como a noite inteira debaixo da Árvore da Vida. Quando o décimo ano se completou, o último casulo restante brilhou mais que qualquer outro que já tivesse brilhado. Quando aquele brilho todo finalmente se dissipou...
- Com licença, disso eu me lembro muito bem. Posso?
- Claro, Christine.
- Quando a luz finalmente se dissipou, a decepção ficou marcada no rosto de todos os anjos. Todos eles ficaram chocados com o que saiu daquele casulo. Não era nomal. Não ali.

Wednesday, February 14, 2007

Capítulo III - Descobertas.

Christine ficou olhando fixamente para Lorenzo durante um longo tempo, pasma pela sua própria falta de cuidados. Louis parecia ainda mais assustado por não ter visto Lorenzo por ali antes. Essa descoberta não era um bom sinal ou uma boa notícia, pois Lorenzo, que era nada senão um simples humano, poderia acabar se envolvendo em coisas muito maiores do que a simples descoberta de que uma de suas colegas tinha asas e era um anjo. O que estava por vir era uma guerra e todos aqueles que tivessem conhecimento de qualquer coisa ligada à esta guerra sem dúvida alguma estaria envolvido. O problema ali era que Lorenzo era um mero humano e estaria metido com todo o tipo de demônios e anjos.

- Como tu nunca me contou? Eu sempre achei... Eu sempre achei que tu fosse um anjo! Tinha vezes que eu até via uma nuance das tuas asas... Quando tu tava muito feliz ou muito triste, eu podia ver aquelas asas brancas abertas... Eu sempre comentei isso com as pessoas e todo mundo sempre disse que eu te louvava demais.
- Se não era possível pra todos verem então... - Christine arregalou os olhos repentinamente - Lorenzo, tu tem uma espécie de marca no corpo? Mais especificamente em algum dos teus ombros?
- Não... Não tenho marca nenhuma! Mas... por quê dessa pergunta logo agora?
- Nada. Esquece. Por favor, esquece o que tu viu. Su tu ouviu alguma coisa, esquece também. Vai ser melhor pra ti, melhor pra mim, melhor pra todos. Simplesmente esquece.
- Eu não posso simplesmente esquec...

Louis levantou-se repentinamente com uma expressão que oscilava entre o ódio e a surpresa, olhando diretamente para Lorenzo.

- O que foi que eu te fiz, Louis? Pra ti me olhar com essa cara?

Christine entendeu em cerca de segundos que não era para Lorenzo que ele olhava com aquela fúria toda. Suas memórias recentemente recobradas permitiam perfeitamente que ela se lembrasse o que era aquele fenômeno que estava acontecendo bem às costas de Lorenzo. uma espécie de buraco negro se abria no chão, suas pontas vermelhas lembravam o sangue e o desenho de uma rosa vermelha se formou no centro daquele buraco, fazendo um barulho de sucção. Lorenzo virou para trás assustado e não acreditava no que via. Christine balançou a cabeça, com aquela sua expressão de "ele não tem jeito". Ela não se referia nem a Lorenzo nem a Louis, mas sim ao garoto que surgia daquele buraco negro. Ele era lindo, sem dúvida alguma: cabelos negros e curtos (des)arrumados da mesma forma que o cabelo de Lorenzo, olhos azuis em fenda, o corpo bem moldado e sua expressão de deboche que lhe dava um ar no mínimo interessante. Ela o reconheceu imediatamente.

- Por quê raios, Lúcifer, tu não podia esperar até que o Lorenzo saísse daqui? Agora ele tá definitivamente envolvido na nossa guerra, que afinal, é nossa, não dos humanos.
- Ah, Chris... Tu não mudou nada! Ele já estava envolvido de qualquer jeito. Não tinha mais como proteger esse menino. E essa guerra é sim dos humanos, tu sabe bem disso.
- Se o Éden joga sujo, nós não precisamos disso.
- Talvez não precisássemos, mas a tua bondade com as almas que eu guardei por eras acabou com o nosso estoque.
- Como se tu podesse me enganar com esse argumento. Eu sei que milhares e milhares de almas descem pro Centro todos os dias. E descem muito mais do que sobem. Além do que, eu também sei que não somente os melhores, mas uma grande quantidade de anjos tem se rebelado e mudado de lado. Lúcifer, eu sei o que acontece, eu recebi toda a minha memória e acredite, eu não vou te deixar danificar a Terra, não vou te deixar fazer o mesmo jogo sujo que o Éden.
- Tudo bem! A senhorita voltou a ter controle (e mais do que eu) sobre o Centro, afinal, tu já sabes como fazer pra descer e continuas sendo a queridinha dos Anjos Caídos. A não ser que os boatos que tu desertou da Rosa sejam verdade...
- Eu jamais desertaria da Rosa. Meu povo me ama e precisa de mim tanto quanto precisava no início dos tempos, Lúcifer, e eu amo meu povo tanto ou mais do que amava nos primórdios da criação.
- Ótimo, era isso que eu queria saber. - era bem previsível que aquela encenação de roubar almas humanas fosse conversa fiada, Lúcifer não era assim. - Louis! Meu amigo querido!
- Eu não sou teu amigo, Lúcifer, e tu sabes disso!
- Eu achei que depois de todo esse tempo tu tivesse esquecido, como eu, mas parece que não...
- Tu? Esquecer que perdeu? Humpf. Me faz rir! - Louis estava positivamente irritado. Lúcifer começou a se irritar com aquilo também.
- Que sair no duelo? A gente ainda pode resolver isso no mano-a-mano!

Em resposta, Louis abriu enormes asas brancas e imaculadas, e uma luz branca emanou de seu corpo. Lúcifer, por sua vez, abriu asas negras, tão grandes quanto as de Louis, e encarou o seu oponente com fúria e desdém nos olhos.

- Já chega!

Christine explodiu com aquela briga e abriu suas asas: metade demônio, metade anjo. Uma luz meio negra meio branca emanou dela e seus olhos verdes se tornaram vermelhos como o sangue. Seus cabelos negros, cacheados, flutuavam com um vento forte e repentino, antes inexistente. Louis e Lúcifer se assustaram e recolheram as asas, mas continuaram a olhar um para o outro com profundo ódio. Lorenzo se encolheu a um canto, assustado com tudo aquilo. Christine se acalmou e voltou ao normal.

- Se eu vir vocês dois brigando de novo, eu juro que dou um jeito de o Louis perder as asas e faço as almas do Centro se virarem contra ti, Lúcifer!
- Não que elas precisem muito pra isso...
- Chega, eu disse! - Lúcifer demonstrou um brilho de medo nos olhos e se encolheu um pouco - Não quero saber disso de novo. Nós estamos do mesmo lado, embora o Louis seja um anjo, e não um Anjo Caído, e não faça nem idéia de que aparência tem o Centro.
- Chrsitine, eu não vou suportar lutar do lado desse...
- Louis, JÁ CHEGA!
- Desculpe. - Louis falou baixando não somente a cabeça como a voz, para um sussurro.

Christine se deu conta do que estava acontecendo. E se virou rapidamente para Lorenzo, encolhido a um canto da sua pequena Casa das Rosas. Este se encolheu mais ainda, com um medo nunca antes visto nos olhos.

- Olha, a gente te deve explicações. Muitas explicações. Tu já ficou envolvido demais nessa guerra pra ficar com essa cara de medo, encolhido a um canto sem entender nada do que acontece. Vem.
- Tu...
- É, eu também sou um demônio, não é à toa que eu tenho a marca da rosa, que é a marca do Anjos Caídos, os protetores do Centro.
- E o que raios é esse tal de Centro?
- É o popular inferno.
- Eu... Não entendo... Mais nada...
- Mais do que nunca, eu te entendo. Senta aqui e a gente te explica.
- Não, péra aí, eu sou o grande imperador do Centro, quem te disse que eu tenho tempo pra explicar pra um garoto que a vida dele não deve durar mais que três meses porque ele tá metido numa guerra entre o céu e o inferno?
- Eu disse.
- Tudo bem. Tô sentando.

Monday, February 12, 2007

Capítulo II - Memórias.

- Uau!! Cara, como foi que fizeram isso aqui?
- Na verdade foi bem simples. Fui eu que projetei, meu pai mandou construir.

Lorenzo estava boquiaberto. Christine sorriu, tanto por dentro quanto por fora. Ela tinha desenhado aquele lugar e pedido para que o seu pai o criasse naquele canto ali. Seu pai, além de ter ficado muito impressionado com o gosto peculiar de uma criança de 10 anos, sobre a mistura de pedra branca com rosas vermelhas ao ar livre, tinha gostado muito da idéia. Christine normalmente ficava por ali ouvindo música, lendo, escrevendo ou até mesmo cantando. As amigas até achavam o lugar bonito, mas tinham preferência pela sala com a lareira, ou o campo, em dias quentes. A única pessoa que gostava dali tanto quanto ela era...

- Uhh, que raridade, Christine aqui com mais alguém.
- Louis! - Christine correu aos braços do garoto, estava morrendo de saudades dele. Ele a abraçou e a girou no ar. - Ah, qual é, a gente passou uma boa parte do verão passado aqui.
- Mas eu sou eu, sim?
- Convencido.
- E aí, Lorenzo? Tudo bem?
- É... Tudo bem sim...
- Enfim, agora temos um problema.
- E qual é ele?
- Eu não tenho três cavalos.
- Mas teu pai tem mais três, no total dá cinco, e ele nunca te nega nada.
- É, é verdade.
- Olha, Christine, eu...
- ... preciso falar contigo. - Os dois se surpreenderam. Fazia algum tempo que não falavam juntos. - Pois é, é um assunto bem sério.
- Olha, eu ainda não arrumei minhas malas, eu vou lá.
- Ok.

Christine ficou assistindo Lorenzo se afastar com a expressão já decepcionada. Resolveu esperar até que ele sumisse na casa, ter certeza de que ele realmente tinha ido arrumar suas malas, pois o que ela tinha a tratar com Louis era muito sério. Um pouco depois de Lorenzo finalmente sumir na porta distante da casa, certa de que não havia como ele ouvir a conversa, Christine olhou para o ambiente que ela havia criado aos dez anos. Era um "carramanchão" - nome que ela detestava -, lugar com quatro colunas de mármore branco, com roseiras que cresciam por estas colunas e se fechavam formando uma espécie de teto. Ali só haviam rosas vermelhas. Abaixo das rosas, um piso também de mármore, mas mármore creme, e balanços/bancos de madeira pintada de branco. Ela gostava muito dali. Sentou-se em um dos dos balanços e fez sinal para que Louis sentasse à sua frente. Ele obedeceu ao sinal e ficaram a fitar-se durante um longo tempo.

- O que eu tenho pra falar contigo é realmente muito sério. É sobre memórias.
- Memórias nossas?
- De certa forma.
- Explique-se.
- Eu não sei se aconteceu o mesmo contigo, mas dadas as circunstâncias, eu imagino que tenha acontecido. A questão é que eu tive sonhos, como se fossem memórias repentinas, acompanhadas de uma compreensão sobre duas marcas que eu tenho no meu corpo. Eu sonhei com a minha, ou melhor, a nossa vida passada.
- Sim, eu te entendo, Christine, também tive sonhos do gênero, que explicaram algumas coisas sobre mim.
- Tu já chegou a sonhar sobre as marcas?
- Não. Nem sei do que tu tá falando.
- Então, eu vou te explicar. Tenho certeza que enquanto eu for te explicando tu vai te lembrar. Eu nunca te falei sobre isso, Louis, mas eu tenho duas marcas no corpo, que são particularmente estranhas: uma, no ombro direito, se parece imensamente com um lírio; a outra, no ombro esquerdo, se parece muito com uma rosa.
- Que estranho. Eu tenho um lírio. No ombro direito, também. Isso tem alguma ligação?
- É claro que tem. Eu me intriguei durante muitos anos com essas marcas, mas meus sonhos tem me explicado elas. Aliás, as tuas memórias, pelo que eu vejo, não estão completas. Mas tu sabe de bastante coisa, sem dúvida. As tuas asas estão bem nítidas pra mim. Enfim. Nas tuas memórias, tu provavelmente te lembra que o céu e o inferno foram criados pelos homens, que precisavam separar as almas humanas boas e as ruins. Deus costumava viver entre os homens e no início do mundo tudo era muito calmo, mas Deus jamais foi assim tão onipotente - os homens assim passaram a crer quando o céu foi criado, tornando-o dessa forma onipotente. Então, quando a população começou a se esparsar demais, o Senhor começou, muito a contragosto, a perder o controle sobre os homens, que começaram a seguir caminhos diferentes e "tortos", por assim dizer. Os homens morriam, mas como não existia céu nem inferno por falta de necessidade dos mesmos, ficavam a vagar pela Terra e observar os vivos. O problema é que os mortos que não tinham um bom caráter passaram a incomodar e causar problemas sérios no dia-a-dia dos vivos, plantando palavras de discórdia em seus ouvidos e suas bocas. Por causa disso, foi criado o inferno. Depois, Deus sentiu que precisava ver as coisas mais... de cima. Então o Éden tornou-se realidade e Deus onipotente, por vontade dos homens.
- Tá, tá ok, tudo isso eu já sei. Onde começa a parte das marcas?
- Se tu não tivesse me interrompido eu estaria chegando lá agorinha mesmo. Deus sentiu-se sozinho no Éden, porque o tempo lá passava muito mais devagar que na Terra, pra que Deus podesse, afinal de contas, observar tudo com calma. Além do que, seria muito cansativo vigiar a Terra sozinho. Então foram criados os anjos, que nasciam todos com asas e a primeira flor que Deus criara na Terra marcada no seu ombro direito: o Lírio. Isso era feito pra diferenciar os anjos dos humanos, pois estes eram iguais, excetuando-se as asas e as marcas.
- Mas as asas não seriam o bastante pra diferenciar um anjo de um humano?
- Não. Os anjos não passavam o tempo todo com as asas abertas, porque apesar de serem órgãos espirituais, exigia algo de esforço mantê-las abertas, e asas ocupavam espaço também. Então, as marcas eram sim necessárias pra diferenciação.
- Tu... também era um anjo, não era?
- Sim. - Christine abriu as asas brancas, cegantemente brancas, mas manchadas de sangue em alguns pontos.
- Mas e a tua marca de rosa?
- Ela vem do...
- Eu sempre soube! Sim, eu sempre soube que tu era um anjo, Christine! Agora eu vi! Eu pude ver! - Christine, assustada com a chegada repentina de Lorenzo, fechou rapidamente as asas. Seu segredo tinha sido descoberto.

Capítulo I - Vida nova.

Ela tinha chegado, finalmente. O ano anterior tinha deixado muitas lembranças boas, mas esse sem dúvidas seria muito, mas muito melhor.

- Essa que é a casa, Christine?
- Sim, é essa mesma, Lorenzo.

Lorenzo. Ele realmente era um garoto bonito, três anos mais velho que Christine, alto, loiro com o cabelo propositalmente bagunçado, sempre com aquele ar de diversão. Era simpático, esperto e inteligente. Ela sentia muito por ele, gostava muito dele e sabia que ele tinha grandes expectativas para aquele verão, mas ele provavavelmente teria uma grande decepção. Ela finalmente, depois de 17 anos, tinha conseguido se lembrar de todo o seu passado, e as conseqüencias tinham sido que ela havia ganho todo o seu antigo poder com isso. Ela ainda não sabia se gostava da idéia de Lorenzo envolvido com tudo aquilo, mas ela já o havia convidado quando se lembrara de sua outra vida.

- É realmente muito bonita! E ainda maior que a outra! Achei que aquela fosse a casa onde a gente ia ficar, mas era a do caseiro... Mas era uma casa de dois andares, gigante... Vocês...
- Não, não a gente não é tão rico quanto tu tá pensando. - Christine riu da expressão dele, mas riu daquele seu jeito gracioso. Não tinha deboche no seu riso. - A maior parte de tudo isso é herança mesmo, mas a gente vive bem, sim.
- Pombas, como é que tu pode estudar naquela escola de pé rapado? E ainda por cima ser tão... - Lorenzo a olhou de cima a baixo. - ... simples?
- O ensino é muito bom, se quiser saber. Eu gosto das pessoas de lá e não me dou muito bem com esses riquinhos que cercam a minha casa, são todos falsos. Eu realmente não gosto daquilo tudo. Pra mim é tudo fachada, da parte deles, sabe? E eu não sou tão simples assim.
- E modesta. Às vezes eu olho pra ti e penso ver asas de anjo...
- Sé... Sério?
- Pode até parecer loucura, mas é verdade. Ei, não precisa fazer essa cara tão surpresa. Eu não tô te cantando. É sério!

Christine se surpreendeu muito com o que ele tinha dito. Ela nunca tinha achado que seu passado era tão visível assim. É claro, ela agora sabia porque causava tanta admiração e inveja nas pessoas e porque afinal de contas era tão acima da média (podia até parecer pouca modéstia, mas era algo que saltava aos olhos), mas ela não achava que sua principal marca - as asas - fosse visível aos olhos de um humano comum. Ou talvez... era muito estranho o fato de que Lorenzo fosse o único a ter sobrevivido a uma tragédia... Não, não, não deveria ser. Apenas eram possíveis oito anjos na Terra simultaneamente e com certeza ele não era um dos milhares de demônios espalhados por aí. Aliás, ela se perguntava como o Éden pretendia ganhar aquela gue...

- Christine? Tudo bem?
- Hã? Ah, claro, claro.
- Tu tava com uma expressão tão séria... Tão... Sei lá...
- Eu tava só pensando.

Lorenzo sentou-se em um dos três troncos espalhados pelo enorme campo florido do sítio e ficou a observar. Christine sentou-se ao seu lado.

- É um lugar bonito... Bem como tu me disse...
- Sim, é lindo... E fica ainda mais lindo quando a gente anda de cavalo aqui. Eu posso te emprestar mais tarde um dos meus dois cavalos, o Christopher ou o Marcel.
- Qual o melhor?
- Não sei. Quando faço os dois correrem, sempre dá empate.
- Qual a grande diferença então?
- O Christopher é negro como a cegueira e o Marcel é branco como as nuvens.
- Suponho que teu favorito seja o Christopher?
- Como tu pode saber?
- Pelo nome. Christine, Christopher. Parece uma dupla perfeita.
- E é. Ele é lindo e um grande corredor. Não que o Marcel não o seja, mas o Christopher corre de um jeito mais gracioso... Mais macio. Não sei te explicar.
- Nem precisa. Cara, esse lugar é realmente lindo!
- É mesmo.

Christine parou para observar o lugar, pela milésima vez na vida. Ela nunca cansava de se olhar pra aquela paisagem. Um campo limpo, vasto e florido, com o pomar de maçãs - sua fruta favorita -, laranjas, goiabas, ameixas, amoras e muitas outras frutas ao fundo, acompanhados de um pequeno lago, que brilhava em seu verde esmeralda espelhado pelo sol. Mas, apesar de toda aquela beleza, aquele não era seu lugar favorito.

- Olha, vamo largar as malas lá dentro, depois eu vou te mostrar meu lugar favorito, é o canto ao ar livre mais lindo daqui.
- Tem um lugar mais bonito que esse campo? Meu deus. Deve ser realmente o próprio paraíso.
- É melhor.


***


Louis chegou no seu sítio. Estava com saudades. Mas esse verão as coisas seriam diferentes. Muito diferentes. A primeira coisa depois de se organizar era falar com Christine e descobrir se ela também recuperara a memória.

Saturday, February 10, 2007

É o fim!

Enfim, acabei isso! Já tava na hora de eu parar de enrolar e pôr um fim nesse experimento de uma vez, mas acho que afinal de contas eu consegui uma história razoável e capaz de prender mais ou menos alguém. Agradeço aqui o Uriel, principalmente, que foi quem mais me ajudou, ele escreveu três dos posts que tão por aí e foi o único que realmente teve paciência pra acompanhar ^^

Agora, meus queridos, começará uma nova saga: Anjos, demônios e humanos envolvidos na maior guerra já vista; preparem-se para muitas doses de lutas, traições, amores proibidos e desobediência herética! Vem aí meu próximo projeto:



Rosas & Lírios: O Inferno e o Céu entraram em guerra. As armas? Almas humanas.

Wednesday, February 07, 2007

Capítulo Último.

- Mãe, a mana já chegou? Não? Ah... Erm... Valeu...
- Puta merda...
- Que houve?
- Olha.
- PUTA MERDA!
- Cara, a gente tem que voltar!
- O que houve?
- É, o que aconteceu?
- Nada demais. A gente tem que voltar.
- Ok, a gente vai junto.
- Não!
- Não... Não é uma boa idéia.
- Mas eu QUERO ir até lá e saber o que houve com a minha irmã.
- Eu preciso saber o que houve com a minha amiga.
- Olha, acreditem, é melhor que vocês fiquem aqui.
- Hunf...
- Ok, obrigado por serem tão compreensivas. - Will deu um beijo na testa da Mari. Alex já tava quase na esquina. Desesperado. - PORRA MEU! ESPERA, CARALHO!
- Não dá!
- To... Tomem cuidado!
- Ok!

Eu sabia que tinha alguma coisa errada ali. Aliás, eu tinha mais do que certeza de que tinha alguma coisa acontecendo com a Angé e não sabia o quê. Aliás, pela expressão do Will eles também não sabiam o que tinha acontecido com ela. Mari estava em uma das suas poucas crises verdadeiras. Por ser um pouco superficial, as poucas crises que ela normalmente tinha eram por causa de um fora ou coisa assim. Mas em geral, a Mariana era uma garota muito equilibrada e racional, e só perdia pra irmã, que muito raramente perdia a cabeça. Mas a coisa mudava quando acontecia alguma coisa séria com Angélique e Mariana não tinha como fazer nada. As duas eram muito ligadas, e normalmente quem mais precisava da irmã era Mariana, por causa da sua pendência peculiar a se meter no que não devia, fosse pela sua leviandade e inocência, fosse pelo bom coração, o que levava Mariana a acreditar que estaria pra sempre sozinha se qualquer coisa de realmente séria acontecesse a irmã. E ela agora estava em um estado deplorável, sentada, com as mãos segurando a cabeça, mas sem derramar uma lágrima que fosse. Mari nunca chorava. Mas ela parecia "fora do ar", sem poder pensar ou agir ou qualquer coisa que identifcasse que ela era humana e vivia; estava completamente parada. O que, no caso das gêmeas, significava o cúmulo do desespero e da infelicidade, misturados. Eu só tinha visto a Angélique assim, e uma vez, quando ela achou ter perdido o Alex pra sempre. Mas, como ela mesma costumava dizer, "o pra sempre sempre acaba". E o fato de uma das garotas mais equilibradas que o mundo já viu entrar em desespero era pra mim a anunciação do apocalipse.

***

William e Alex corriam enlouquecidos até o esconderijo de Cristiano, preocupados. Ou Angélique estava em reais apuros ou ela jamais pediria ajuda, isso era certo.

- O que será que aconteceu?
- Vou saber? Vamo logo!

Quando os dois chegaram na porta do esconderijo, havia uma garota gritando no porão, e dois garotos se preparaam para descer e provavelmente silenciá-la; Alex reconheceu a voz, era Lúcia, uma garota há muito excluída dentro da escola e que odiava de todo o coração Angélique. Ele ficou imaginando porque ela teria sido presa no porão, soubera que ela e Crsitiano tinham se aliado.

- Vamo entrar logo.
- Calma cara. Vamo esperar os dois entrarem no porão, vai ser mais fácil pra nós, assim não vamos ter obstáculos.
- Mas eles podem machucar quem estiver lá dentro.
- A nossa priori é a Angé. Fica frio aí, ela com certeza tá em apuros muito mais sérios que os dois ali embaixo.
- Ó, desceram. Vamo!
- Vamo!

Eles entraram apressados na casa, que caía aos pedaços; mas sempre sem fazer barulho, pra não chamar a atenção dos dois trogloditas abaixo deles, qualquer movimento muito brusco era arriscado. Tentaram achar Angélique na sala, e não conseguiram. Se espantaram muito quando foram até o corredor e acharam uma das portas, a que ligava a um quarto que tinha apenas alguns colchonetes, semi aberta. Will fez sinal de silêncio, passou na frente e pediu que Alex esperasse. Ele estava muito ansioso e preocupado com a namorada. Alex segurou a manga de Will:

- Eu quero entrar na frente.
- Não é uma boa idéia. Faz o seguinte: tu acha que dá conta daqueles dois lá embaixo?
- Talvez. É só nocautear um silenciosamente e o outro é fácil.
- Ok. Desce e ajuda aqueles dois.
- Mas eu quero saber o que esse filho da p...
- Fala baixo, porra.
- Desculpe. Eu quero saber o que aquele infeliz pretende fazer com a minha namorada, aproveitar e quebrar a cara daquele infeliz de uma vez.
- Tu tá muito ansioso e pode fazer alguma cagada. Vai até lá embaixo e ajuda a guria e o Guilherme.
- Hunf... Ok...

Alex saiu, contrariado, e Will parou e abriu a porta com vagar e cuidado; Angélique estava desmaiada em cima de um dos colchonetes, e Cristiano olhando pra ela e afrouxando a camiseta; William não demorou muito pra perceber o que estava acontecendo ali. Felizmente, Cristiano estava de costas pra porta. Angélique estava amarrada a duas argolas na parede. Will ficou imaginando o que eles não fariam naquele quarto. Filhos da puta. Foi se aproximando do seu maior desafeto escolar com cautela; não poderia ser percebido. Quando chegou perto, desferiu um soco forte no topo da cabeça de Cristiano - este cambaleou um pouco, mas não caiu. Região errada. Merda.

- Como...? Seu desgraçado! - Cristiano partiu pra cima de William, furioso
- Bastard! Como você ousa tentar fazer isso com uma amiga minha?! - deu um soco forte na cara do Cristiano, depois de desviar de outro. Seguido de um chute forte, foi o bastante para levar o garoto a nocaute. - Playboyzinho fraco de merda. Nem pra uma luta interessante ele serve.

Decidiu desamarrar Angélique primeiro. Alex devia estar se virando bem, ele fazia aulas de luta desde pequeno, não era burro.

***

Eu pensei muito antes de fazer o que fiz, mas eu fiz. E ainda bem que fiz, diga-se de passagem. Algo como dois minutos depois que os garotos saíram correndo, eu me levantei, peguei a mão da Mari e obriguei ela a correr comigo, coisa que ela odiava fazer. E corri, o mais rápido que podia, pra o esconderijo do meu "querido" ex. Deixei a Mari na entrada, um pouco receosa, sim, mas com certeza seria muito mais seguro do que dentro da casa. Eu acho que nunca raciocinei tão bem na minha vida. Fui avançando com calma e vi um dos garotos do Cristiano, o Vinícius, indo na direção de um dos quartos. Não demorei muito pra adivinhar o que Cristiano queria fazer com Angé e rezei pra que os garotos tivessem chegado a tempo. Fui atrás dele devagar e silenciosamente. Will estava no quarto, abaixado, do lado da Angé, desmaiada, desamarrando as cordas que prendiam ela à parede. Vinícius era burro, mas não era tanto e tinha preferido conservar o elemento surpresa.

- WILL! CUIDADO! ATRÁS DE TI!

Naquela hora o Vinícius olhou pra trás, surpreso, junto com o Will, mas esse foi mais rápido. Deu um soco forte bem no topo da cabeça do Vinícius, que caiu instantaneamente, fazendo o estrondo de um armário. O Will fez cara de assustado.

- Cadê o Alex?
- Não sei. Não vi. Achei que ele tivesse entrado aqui contigo e talvez tivesse saído pra chamar a polícia, ou algo assim.
- Merda!

Will saiu correndo e eu terminei de desamarrar a Angé. Ele entrou no porão, eu ouvi uma pancada e um berro do Will de raiva. Corri pra lá.

- O que houve? - Eu tinha terminado de meter a cabeça pra dentro do porão. - Meu deus...!

Tapei o nariz. Aquele lugar cheirava a podre como eu nunca tinha visto. Lúcia, uma garota bem impopular do nosso colégio, jazia estirada e desmaida, um pouco agredida, em um dos cantos. Aos pés do Will, um dos capangas do Cristiano jazia no chão depois de um golpe violento sabe-se lá aonde. Ele estava bem arranhado nos braços, o que me sugeria que eles tinham trazido a Lúcia ali pra baixo a pouco tempo. E em outro canto, com feridas em carne viva, acabado, com um prato de frutas podres do lado, estava o Gui, desmaiado, em um estado realmente deplorável - palavra que eu tinha aprendido recentemente com a Angé -. Corri pra ele, o abracei e o ninei, chorando.

- Olha, Aninha, é melhor a gente sair daqui. Eu acho que dou conta do Alex, a Angé já deve estar acordando, provavelmente ela já vai acordar berrando e querendo assassinar o Cristiano, então ela carrega o Guilherme, e a Lúcia...
- Eu posso ir andando.
- Melhor pra nós. Então, Aninha, vou te pedir o favor de ajuda a Angélique a carregar o...
- CADÊ AQUELE FILHO DE UMA PUTA?!
- Enfim, talvez não precise. Vam'bora.


***

The End.