. Rosas & Lírios: o céu e o inferno entraram em guerra. As armas? Almas humanas.

Um blog que tem sempre uma história rolando. A história atual é Rosas & Lírios, um conflito entre o céu e o inferno pela liberdade e pela posse do universo.

My Photo
Name:
Location: Porto Alegre, RS, Brazil

O sol é minha enegia e o calor, meu combustível. O céu azul é meu sorriso mais eterno, e as penas de minhas asas foram esparramadas ao redor do teto do mundo; são as nuvens, às vezes brancas e puras, às vezes negras e corruptas. Não pude aprender a amar o frio, a noite ou a chuva - e no entanto, eles me amam mais que a tudo. E seus presentes são sempre as palavras.

Thursday, April 12, 2007

Capítulo IX - Retorno.

Christine observou a paisagem desolada do lugar que um dia fora ainda mais belo que o próprio Éden. As árvores mortas e sem flores ou folhas, o céu eternamente cinza, o chão infértil de terra batida e o vento frio que soprava, ameaçando nevar. Soltou-se de Lúcifer e abriu asas negras, apressando-se a pousar, para não haver maiores complicações com a sua saúde, que naquele momento era precária. Nenhum Anjo Caído ou alma apontava no horizonte. As lágrimas assomaram-lhe a face e a dor invadiu seu peito; o lugar estava destruído. Christine tentou, em vão, imaginar como estariam as construções do lugar. Se não estivessem em ruínas, certamente já não existiriam mais. Ela fez todo o esforço que pode para que nenhuma lágrima caísse de seu rosto. Lúcifer pousou ao seu lado e baixou a cabeça - ela sabia que ele não podia fazer nada, mas ele com certeza sentia-se culpado pelo estado do Centro. Repentinamente, despontou no horizonte a figura de uma criança. O coração de Christine bateu mais forte: ela sabia bem que criança era aquela. Ela vinha correndo desesperadamente. Enquanto ela se aproximava, chamados começavam a ficar claros. Christine não aguentou - saiu correndo em direção a criança, o máximo que podia. Estando mais próxima, ela podia ouvir a menininha gritando seu nome. Quando as duas se encontraram, o silêncio voltou a reinar e Christine ajoelhou-se para abraçar a pequena. Lúcifer vinha voando atrás.

- Chris... Chris!! Tu voltou! Que saudade! Já tinha gente dizendo que tu tinha nos abandonado pra sempre... Que tu nunca mais voltaria... Que todo mundo ia voltar a pagar pelos pecados que não cometeu... - a garotinha começou a chorar - Eu fiquei tão preocupada! Ninguém quis acreditar em mim! Ninguém acreditou que tu voltaria!
- Isso não importa mais. Eu estou aqui e voltei pra que todos vocês possam voltar a viver com calma.
- Nós tivemos até mesmo algumas invasões. - Lúcifer relatou com um tom sério, e acrescentou, indignado: - O povo tá enfurecido comigo. Não interessa quantas vezes eu tente explicar que não posso fazer nada contra isso.
- Eu também tentei explicar que o Lú não podia fazer nada, mas ninguém nunca me ouve... Dizem que eu sou muito criança...
- Eles são todos muito cabeças-duras, Catharine. Eu mesma nunca consegui convencer a todos de que o Lúcifer não pode fazer nada quanto a situação deles; tudo o que ele pode fazer é manter esse lugar aqui separado da Punição.

A menina de nome Catharine voltou a abraçar Christine. Ficaram dessa forma durante um longo tempo, sob o olhar cuidadoso e aliviado de Lúcifer, até que repentinamente Catharine se levantou e puxou a mão de Christine, levando-a em direção ao horizonte. Christine não sabia exatamente onde estava indo, pois o lugar estava irreconhecível, mas podia ter uma idéia. Ela começou a correr junto com a menina, com o coração doído e ansioso. Esqueceu que não poderia ficar ali por muito tempo; ainda tinha uma vida na Terra, e uma batalha para lutar lá em cima. Apenas correu na direção que Catharine apontava, desesperada para descobrir o que lhe aguardava além do horizonte. Devagar, ergueram-se algumas casas na paisagem, e bem ao fundo, um enorme castelo negro de pedra. Daquela distância era impossível dizer se estariam ou não em ruínas. Tudo que ela podia ver à sua volta era desolação, contrariando as memórias que ela tinha guardado em sua mente.
Christine ainda podia lembrar perfeitamente como o Centro costumava ser: um lugar lindo, mais lindo e agradável que o próprio paraíso. O sol e a chuva se alternavam e, ao meio-dia, gotas de chuva douradas pela luz de um sol radiante costumavam cair. A lua mostrava-se esplendorosa em suas quatro fases, e o céu era sempre repleto de estrelas. O chão era de grama verde, e rosas de todas as cores espalhavam-se nos campos. Árvores cresciam livremente; enormes carvalhos, cerejeiras, jacarandás, palmeiras. Árvores que davam as mais variadas frutas, em sua maioria desconhecidas até mesmo pelo próprio Éden. Arbustos nasciam e neles brotavam as mais belas e cheirosas flores, perfumando o lugar da forma mais perfeita. Nas pequenas vilas e cidadezinhas, as casinhas de pedra eram rodeadas por enormes janelas e com roseiras que cresciam nas paredes, e suas rosas vermelhas que davam proteção ao povo. Tudo isso para compensar a injustiça que tinha sido cometida com alguns. Muitos deles não queriam voar ao Éden por causa das maravilhas que Christine tinha proporcionado à todos eles e aos seus Anjos Caídos. Um castelo de pedra branca erguia-se bem no meio de todo o Centro: ali era a morada de Christine, Lúcifer, Catharine e mais alguns anjos de confiança de Christine. O Centro era protegido da Punição (parte do inferno para onde iam as almas pecadoras) por unicórnios alados, brancos como a luz em sua origem. Tudo lá fora mais belo e pacífico que o próprio Éden, mas agora o Centro estava destruído, porque Christine não pudera ficar ali.
Catharine puxou o braço de Christine, retirando-a de seus devaneios e lembranças acerca do lugar que ela tanto amava. Antes de a imagem da principal cidade do Centro formar-se perante seus olhos, Christine caiu no chão, completamente exaurida pela longa corrida.

Wednesday, April 04, 2007

Capítulo VIII - Dúvida.

Christine acordou atordoada no sofá da sala, ainda um pouco tonta, sem conseguir se lembrar com clareza de tudo que acontecera. Quando sua visão finalmente se tornou nítida, ela divisou as expressões preocupadas de Lorenzo e Louis.

- Tudo bem, Christine?
- Mais ou menos. Parece que usei força demais. Não consigo me lembrar de muita coisa.
- Danos permanentes na memória? - Louis realmente parecia preocupado. Mas também um tanto aliviado.
- Não. Devo começar a me lembrar de tudo em pouco tempo.

Lorenzo saiu da sala sem dizer palavra e sem um motivo aparente. Louis, aproveitando a oportunidade, olhou seriamente para Christine.

- Tenho duas coisas a tratar contigo.
- E por quê não pode tratar na frente do Lorenzo?
- Porque é melhor assim.
- Hum. - Christine ficou durante um longo tempo analisando a face de Louis, concentrada, procurando quaisquer vestígios de uma possível brincadeira em sua expressão. Não achando nenhum, assentiu com a cabeça. - O que seria?
- O primeiro é sobre o Lorenzo. Tu não teve a oportunidade de observar, porque tu estava virada de costas pra ele durante todo o tempo, mas eu não tirei os olhos dele durante a visitinha do "Mika". - Os olhos de Louis brilharam de desprezo perante a pronúncia irônica do apelido.
- E...?
- O Lorenzo me pareceu um pouco estranho. Ele estava bastante amedrontado sim, mas quando o Michael foi atacado, o Lorenzo pareceu sair de si. Os olhos dele saíram de foco e por alguns segundos eu pude ver o espectro de algo que me pareceram asas.
- Asas? Que espécie de asas?
- Não ficou bem claro, mas não eram asas de anjo ou de demônio, tampouco uma junção dos dois, isso eu posso te afirmar com toda a certeza.
- Isso é, com certeza, estranho. Pode ter sido uma simples ilusão tua...
- Talvez. Mas tu sabe tão bem ou até melhor que eu que eu não tenho o hábito de ter "ilusões".
- Investigaremos. Temos que relatar isso pro...

Uma luz negra com o formato de uma rosa surgiu no meio da sala. Christine sorriu.

- ...Lúcifer.
- Alguém me chamou? - Ele sorriu de uma forma divertidamente irônica. Aquele sorriso debochado inerente à sua personalidade.
- Sabe, Lúcifer, é impressionante a tua capacidade de ser inconveniente! - Louis não parecia exatamente contente com a chegada do "Grande Imperador".
- Por quê? Tu por um acaso ia declarar o teu amor infinito não correspondido pela Christine? - Apesar da expressão divertida de Lúcifer, Louis parecia a ponto de ebulição.
- Não que o que tu sinta por ela seja correspondido...

Faíscas saíram da discussão, quando Christine levantou severamente e os interrompeu com um olhar cortante e assassino. Cambaleou logo depois, mas um tapa em cada um deixou bem claro que o primeiro que encostasse nela teria problemas. E o segundo também.

- Mais uma discussão imbecil dessas acerca de mim ou que me envolva, e é bem provável que eu parta os dois ao meio, e vocês sabem que eu não estou usando metáforas. - Lúcifer e Louis baixaram a cabeça imediatamente, como cães acuados. - Lúcifer, o que tu viestes fazer aqui?
- Nossa, que recepção! - Lúcifer fez uma cara dramática. - Se não quiser que eu suba, tudo bem, eu não subo... - Ele foi virando as costas e saindo, mas desistiu depois de perceber que Christine não moveria um dedo para impedí-lo. - ... nem por um capricho, Chris?
- Não.
- Vossa Majestade é má. - Lúcifer se encolheu quando olhou nos olhos dela. Christine repetiu a pergunta, separando as sílabas.
- O que tu viestes fazer aqui?
- Te avisar que eu preciso urgentemente de ajuda.
- Pra quê? Onde?
- No Centro.
- Ué, não eras tu o "Grande Imperador"...?
- Até tu despertar, era!
- Vossa Majestade é um incompetente. Eu não posso descer, usei muita força e me sinto altamente fraca.
- Força em quê? - Lúcifer se expremeu em uma cara desconfiada.
- Longa história.
- Hum. Tu tem certeza de que não consegue?
- Não dá pra abrir o portal. Se eu abrir, caio morta do outro lado.
- Ah, não seja por isso.

Antes de Louis ou até mesmo a própria Christine conseguirem esboçar qualquer reação, Lúcifer pegou a garota pela cintura, abriu o portal e, com ela, desceu até o Centro. Louis espumava de raiva quando o portal se fechou bem à sua frente.