. Rosas & Lírios: o céu e o inferno entraram em guerra. As armas? Almas humanas.

Um blog que tem sempre uma história rolando. A história atual é Rosas & Lírios, um conflito entre o céu e o inferno pela liberdade e pela posse do universo.

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O sol é minha enegia e o calor, meu combustível. O céu azul é meu sorriso mais eterno, e as penas de minhas asas foram esparramadas ao redor do teto do mundo; são as nuvens, às vezes brancas e puras, às vezes negras e corruptas. Não pude aprender a amar o frio, a noite ou a chuva - e no entanto, eles me amam mais que a tudo. E seus presentes são sempre as palavras.

Thursday, March 27, 2008

Capítulo XIV - Planos

Lorenzo estava enterrado. Próximo ao lago, ele certamente descansaria em paz. Christine, envolta em um vestido negro, observava as águas plácidas do lago da propriedade com um terrível sentimento de culpa a assomar-lhe a mente e o coração. Culpa não somente pela morte de Lorenzo, mas pelo que deveria fazer agora, pelo que pediria a Louis.
- Tu não acha que ficar aí, com cara de morte, olhando pro lago e esperando o apocalipse chegar é muito desrespeito com o Lorenzo?
- Talvez. Mas eu não estava simplesmente esperando o apocalipse. Eu estou pensando.
- Hum. Sobre...?
- Tudo.
- Claro. E esperando o apocalipse chegar.
Louis sorriu, mas Christine não retribuiu o sorriso.
- Eu preciso que tu volte pro Éden.
- Tu enlouqueceu de vez? Minha cabeça tá a prêmio por lá!
- Eu sei. Mas eu preciso que tu volte!
- E de que eu deveria servir? Exemplo?
- Não seja burro. É óbvio que tu não vai entrar lá como meu aliado.
- E como exatamente tu espera que acreditem em mim?
- Bem eu suponho que se tu me matasse eles acreditassem em mim.
- Claro. Acontece que eu não...
- E é exatamente isso que tu vai fazer.
- O QUÊ? - Christine riu da cara dele. De um jeito bem desagradável.
- Eu acho que tu vai precisar da ajuda do Lúcifer.
- Tu não pretende que ele concorde com isso né?
Um clarão negro e rápido interrompeu a conversa dos dois, e Lúcifer apareceu imediatamente.
- Opa! ouvi meu nome?
- Ouviu! Essa louca quer que a gente mate ela!
- Como é que é?
Christine riu de novo. De um jeito mais desagradável. Saiu caminhando e começou a falar com os dois. Ao fim da conversa, nem Louis nem Lúcifer pareciam felizes ou convencidos.
- Não, mamãe. Dessa vez não.
- Sim, dessa vez sim. E eu já mandei parar com essas piadas imbecis.
- Ah, são engraçadas. E não.
- É, nem pensar.
- Vai ser na briga ou vocês vão fazer isso sem miar?
- Ou adoro esse teu jeito persuasivo, mamãe.
- Eu odeio esse jeito persuasivo dela. - Os dois riram e bateram palmas.
- Parem com isso vocês dois.
- Ainda acho que isso não vai dar certo.
- Só se vocês não fizerem como eu disse.
- Hunf. Ainda não gosto.
Lúcifer abriu a cruz invertida e voltou pro Centro. Christine e Louis foram para dentro da casa. Louis ia arrumar as malas.

Wednesday, January 02, 2008

Capítulo XIII - Luto

Christine ainda tentou, em vão, trazer de volta a vida o infeliz Lorenzo, dando ao morto o antídoto do veneno. Depois de esperar durante longo tempo que o antídoto surtisse efeito, desistiu. Segurando as lágrimas, Christine voltou a colocar o corpo de Lorenzo nos ombros e deixou o corpo deitado no sofá. Subiu as escadas pesadamente, para encontrar Lúcifer cuidando das feridas de Louis. A adaga na coxa dele fora cuidadosamente removida e sua perna sangrava bastante.
- Ai! AI CARA! Água faz arder!
- Ou isso, ou gangrena, escolhe.
- Aaaai!Gangrena!
- Cala essa boca! O tratamente custa um dinheirão! E sem tratamento tu ia ter que amputar a perna...
- Mas isso arde!
- Gangrena te faz perder a perna, imbecil!
Christine, um tanto confusa com a conversa, observou a cena durante um tempo, quase esquecida da morte de Lorenzo, tão maravilhada estava com a amizade repentina dos dois. Pigarreou.
- O Lorenzo morreu. - Sua voz não demonstrava qualquer abalo, qualquer tristeza. Soou clara, nítida e até mesmo fria. - Não houve o que fazer. Antes que eu terminasse o antídoto, o semblante dele empalideceu e o Lorenzo soltou o último suspiro.
- É, deu pra ouvir teu grito daqui.
- Mentira, não se ouviu nada. - Louis olhou para Lúcifer em advertência, e lhe deu um discreto tapa nas costas.
- É, é brincadeira, nem se ouviu nada, não faz essa cara... - Lúcifer se apressou em consertar, enquanto esfregava as costas e lançava um olhar de vingança para Louis - ... tu gritou?
- ...Gritei. E chorei, como vocês podem presumir. Por incrível que pareça, eu também sou capaz de sentir. A morte dele foi culpa minha.
Um silêncio pesado se abateu sobre o grupo. Encararame-se durante longo tempo. Lúcifer e Louis baixaram a cabeça.
- Lúcifer, volta já pro Centro. Amanhã pela manhã o Louis e eu vamos enterrar o Lorenzo. Depois eu vou invadir o Éden, porque o tempo urge.
- Eu não vou te deixar aqui!
- O Louis vai estar comigo.
- Tá, mas o Louis sempre baixa a cabeça pra ti.
- Não que tu não faça isso também... - Foi a resposta de um Louis censurante.
- Tá, mas quando nós dois ficamos um do lado do outro, dá coragem pra enfrentar essa cara de má da Chris...
- Mesmo que depois vocês apanhem, claro.
- Detalhe!
Uma vez que Christine não ouvisse aquele uníssono há muito tempo, esse protesto lhe atordoou um pouco, mas não o bastante:
- Lúcifer, volta pro Centro.
- Mas...
- AGORA!
- Sim, mamãe.
Imediatamente, o portal para o Centro se abriu e Lúcifer escorregou sem demora por ele. Christine virou as costas e se encaminhou para a sala. louis foi atrás dela o quanto antes.
- Tu não vai dormir?
- Não.
- Mas tu precisa dormir!
- Não.
- Christine, vai dormir!
- Não.
Christine simplesmente virou as costas, ignorando em absoluto a expressão preocupada de Louis. Ele, então, foi atrás dela pegou-a no coloe, sob uma série de protestos furiosos, a levou para o quarto.
- Chega, Chris. Tu precisa descansar. Tu foi daqui ao Centro depois de um desmaio, e quando voltou deu de cara com um ferido e um envenenado. Convocou o Lúcifer e ainda carregou o Lorenzo nas costas por uma boa distância, duas vezes. Eu não se tu viu quem foi a invasora, mas se tu viu, isso deve ter te desgastado. Tu viu um amigo morrer e discutiu com o Lúcifer. Chega. Descansa. Tu sabe melhor do que eu que teu corpo não é imortal. E tua alma também não. Eu vou velar pelo Lorenzo. Dorme.
Christine segurou as lágrimas a custo. Louis virou as costas e desceu as escadas, e ali permaneceu velando por Lorenzo. Ele tinha certeza que Christine pretendia invadir o Éden em breve, e isso o incomodava muito. Ele era, na verdade, um desertor, apesar de ter sido mandado pelo próprio Criador para a Terra, para que ele pudesse cuidar de Christine. A grande verdade era que ela é que vinha cuidando dele, mas...
- Christine, eu não te disse pra ir dormir?
- Eu não consigo.
- Tenta de novo.
- Eu não consigo!
Christine sentou-se ao lado de Louis, à frente do corpo de Lorenzo. Ela mirou o corpo sem vida do amigo surante longo tempo. Louis olhava para ela.
- A culpa não foi tua.
- Não, claro que não. A culpa é minha. se eu tivese dito pra ele não vir, se tivesse inventado uma desculpa qualquer, se tivesse mandadoele de volta pra casa, qualquer coisa... Se ele nunca tivesse me conhecido!
- Mas que besteira! Ele ficou aqui porque ele quis. O Lúcifer avisou. Ele foi envenenadi porque quis. Eu disse pra ele correr, mas o lorenzo se meteu na minha frente e acabou sendo envenenado.
Sem conseguir se conter, Christine se atirou nos braços de louis, soluçando desesperadamente.
- Quando? Quando as pessoas que eu mais amo vão parar de sofrer só porque me conhecem? porque Deus ouve o Michael? Porque aquele pirralho desgraçado não me mata, ao invés de matar tudo o que eu estimo?
- Porque tu não daria tua vida de graça pros proprósitos cretinos do Michael, porque tu lutaria com ele (e venceria, tu sabe disso), porque as pessoas que te amam preferem morrer por ti a te perder!
- Então eu quero que me odeiem.
- Fica quieta! Nem parece a Christine que eu conheço.
- Tu nunca me conheceu.
- Tu que pensa.
Christine abraçou Louis e ali ficaram, velando pela alma de Lorenzo, até o dia seguinte.

Wednesday, October 31, 2007

Capítulo XII - Ferimentos.

Já no caramanchão, Christine demonstrou certa preocupação. Lúcifer e Catharine tinham ficado no Centro. Ela agora Tinha maior urgência de invadir o Éden. O desaparecimento da Rosa Eterna, fonte de vida do centro, chamava um único nome: Michael. Como ele fizera para entrar no Centro, ela não fazia idéia, mas ela tinha certeza de que aquilo era coisa do Michael.
A noite pesada caía sobre o casarão, e a luz do luar se refletia no lago da propriedade. Christine divisou a luz de um dos quartos, no sgeundo andar. Curiosamente, o seu quarto.
O instinto lhe avisou para não gritar, correr ou fazer qualquer coisa que pudesse chamar a atenção de alguém. Subiu as escadas silenciosamente, e foi até o próprio quarto - a porta estava escancarada. Christine fechou os olhos, concentrou-se e formou uma lâmina de luz vermelha, flutuando na ponta de seu dedo indicador.
Olhou para dentro. Roupas espalhadas, malas desfeitas, móveis derrubados e no meio tudo aquilo, um ser encapuzado revirava sua cama. Percebendo o movimento, a criatura virou-se, deixando cair o capuz que lhe cobria a cabeça. Christine identificou imediatamente os olhos brancos e longos cabelos prateados e lisos que se apresentavam diante dela.
- Diana! O que...?
Não houve tempo para que Christine completasse sua pergunta. Asas brancas irromperam de fendas nas costas do manto do anjo, e Diana voou em direção ao horizonte.
Christine ficou a observar sua antiga pupila sumir, até se dar conta de que ela ainda não encontrara Lou is ou Lorenzo. Algo lhe dizia que as coisas não estavam bem.
Ela caminhou até o quarto de Louis: vazio. Um vento frio entrava pela janela aberta. A casa estava em silêncio. Christine andou até o quarto de Lorenzo, agora. Inicialmente, pensou que o quarto estava vazio. Ao tentar ligar a luz, ela percebeu que o lustre estava em pedaços, que luziam com o brilho da lua que entrava pela enorme janela. Quando christine deu um passo a frente, mais sinais de luta se revelaram, como riscos profundos no mogno dos móveis, coisas quebradas e até mesmo móveis menores virados.
- Chris... Christine... - a voz fraca de Louis atingiu seus ouvidos - Ainda bem...
- Louis!
Christine adiantou-se, desesperada, para o garoto.v Louis estava gravemente ferido. Cortes sérios marcavam seus braços, e uma adaga jazia enterrada em sua coxa. Uma pequena poça de sangue estava diante dele. Louis estava lívido. Quando Christine fez menção de ajudá-lo, ele tentou imapedi-la (muito embora lhe faltasse forças para tanto), apontando para um canto mais obscuro do quarto. Lorenzo estava desmaiado, sem qualquer sinal de sangue ou ferimento. Mas, pelas veias saltadas das mãos do garoto, Christine adivinhou o que o afetava. Verificando que Lorenzo ainda vivia, Christine juntou as mãos com força e chamou por lùcifer. Em alguns segundos, ele apareceu, risonho e brincalhão:
- Não pode ficar sem mim, né? Admite!
- Cala a boca e me ajuda. - Foi a resposta ríspida e um tanto desesperada de Christine - Cuida do Louis, eu vou carregar o Lorenzo até o campo.
- Tu não quer trocar de tarefa, não?
- Não. Tu não conhece esse veneno.
Christine saiu do quarto com Lorenzo nas costas, sem dizer mais uma única palavra, envergada com o peso do corpo. Desceu as escadas o mais rápido que pôde, desesperada. Arrastou o garoto pelo campado até chegar embaixo de um grande cravalho. Ali cresciam flores fantásticas: suas pétalas não tinhham uma única cor, mas cinco. Azul, branco, rosa, amarelo e preto. cada uma daquelas pétalas era o antídoto para um veneno, com excessão da pétala negra. esta expelia o pior veneno de todos os mundos. O único antídoto existente era juntar uma pétala de cada cor daquela mesma flor que produzia o veneno. No entanto, quando uma pétala era retirada, todas as outras enegreciam; o mínimo necessário para fabricar um antídoto eram quatro flores. Christine tinha dez vezes isso, mas um décimo do tempo necessário para converter as flores em antídoto. Lorenzo abriu os olhos, e sua voz soou fraquíssima:
- Chris... Chris, eu preciso te dizer...
- Quieto, Lorenzo - o tom desesperado de Christine traía a calma em seu rosto - Abre a boca e engole isso...
- Eu vou morrer, não vou? Olha, eu preciso te falar...
- Fica quieto criatura! Tu tá fraco! - as lágrimas espelhavam os olhos amendoados de Christine - Tu não vai morrer! Eu não vou deixar!
- Chris... - uma lágrima brotou dos olhos cansados e sem brilho de lorenzo, a despeito de seu sorriso tranquilo - Eu... eu te amo...sempre... pra sempre...
Os olhos de Lorenzo fizaram-se em um únicpo ponto - o rosto de Christine - quando sua mão afrouxou um já precário aperto no braço da mesma, caindo no gramado de orvalho.
- Lorenzo! Lorenzo! NÃOOOO!

Monday, October 01, 2007

Capítulo XI - Recepção

Catharine e Lúcifer corriam de um lado para outro tentando achar alguém que neles acreditasse.Christine jazia na fronteira da cidade, guardada por um tigre branco em uma cama de rosas, longe das vistas do povo.
Cataharine ficara desacreditada depois de vários anos predizendo a volta de Christine, sem que esta jamais voltasse - até agora. Já Lúcifer jamais tivera crédito com ninguém naquele lugar, e as coisas pioraram quando Christine partiu.
Quando os dois encontraram-se no meio da pequena vila (que fechara suas portas e janelas), olharam-se desanimados. E tamanha não foi sua surpresa quando Fenrir (o tigre que deveria estar cuidando de Christine) apareceu por entre a névoa, andando calmamente. Alguns segundos depois, uma Christine de expressão cansada observava as casas do seu povo com um triste brilho nos olhos.
- Chris! Christine!
- Aqui! Nós estamos aqui!
Christine foi arrancada de seus devaneios pelos gritos dos dois e, andando até eles, deu-se conta de que a haviam deixado sozinha:
- Como é que vocês me deixam sozinha e desmaiada na fronteira da cidade? Só o Fenrir não conseguiria me defender de um ataque eventual de monstros! Lúcifer, eu aposto que isso foi coisa tua!...
Janelas começaram a se abrir, com rostos curiosos e que não se enganavam - aquela era a voz da sua rainha. Christine, enfurecida com o absoluto desleixo tanto de Cataharine quanto de Lúcifer, nem notava a comoção geral.
- ... vocês não pensam nas conseqüências? Eu não teria me acordado a tempo pra defender meu povo!...
- MESTRA!
Christine se surpreendeu com o chamado, mas a névoa e a raiva começavam a se dissipar e ela agora podia enxergar perfeitamente seu povo, seus súditos amados.
O cidadão tomou a mão de Christine, com os olhos lacrimejantes, e a beijou emocionado. Um círculo se formou à volta dela, e muitas pessoas choravam de alegria.
Depois de tanto tempo de abraços, cumprimentos e sorrisos, Lúcifer tocou temerosamente o ombro de Christine.
- Tem um motivo mais importante que as catorze tentativas de homicídio que quase me mataram na última semana pra eu ter te trazido pra cá.
- Catorze tentativas de homicídio? - Christine arregalou os olhos e levantou a voz - Como assim catorze tentativas de homicídio?
- Isso não vem ao caso. Mas... a Rosa Eterna.
- Que tem a espada?
- Ela... desapareceu. - Lúcifer se encolheu enquanto Christine arregalava ainda mais os olhos.
- Como desapareceu?
- Sumiu. Um belo dia eu cheguei lá e ela tinha sumido. É por isso que as coisas estão assim. Tudo esteve bem até que a Rosa Eterna sumiu. A Catharine manteve bem as coisas. Mas assim mesmo, a nossa fonte de vida e proteção desapareceu.
- Isso é grave. Agora não faz sentido eu ficar aqui, porque não tenho forças o bastante pra proteger essa terra. Mas ainda assim...
Christine começou a andar rapidamente em direção ao horizonte. Lá, no horizonte, um castelo de vidro e cristal apareceu. Haviam três enormes torres; uma à esquerda, uma no meio e outra à direita do enorme castelo. Encarapitadas em cima de cada torre estavam três quimeras. As três rugiram e um raio abriu uma porta antes inexistente no enorme castelo. Fenrir correu até alcançar Christine, e ela entrou junto de Catharine e Lúcifer.
O povo, do lado de fora, esperou respeitosamente que a porta se fechasse. Lá dentro, duas escadas guiavam a um mesmo ponto: um altar. O altar, que tinha quatro pilares a sua volta, estava vazio. As roseiras que cresciam presas aos pilares estavam secas e mortas. Christine se adiantou ao altar.
- Como...? Como isso pôde acontecer?
- Não sei, Christine. Mas eu não tenho mais descanso, estou exaurida.
- Só há uma coisa a fazer.
Christine desembainhou sua espada e a enterrou no centro do altar. Um brilho dourado emanou da espada e um enorme estrondo foi ouvido, junto a gritos estridentes de monstros. As roseiras renasceram e as quimeras rugiram uma vez mais. Christine desceu do altar e subiu uma escada lateral, escondida por uma porta enorme ao lado da entrada. Foi até a última janela da torre do meio e saiu na sacada. Um enorme escudo de proteção formara-se em torno do Centro.
- Meu povo! Peço que prestem atenção : Fenrir montará guarda no Altar da Vida durante todos os dias. Ninguém deve voltar a entrar aqui até que eu desça novamente, nem mesmo Lúcifer ou Catharine. As quimeras cuidarão da segurança externa. Qualquer um que violar estas regras porá em risco toda a população, além de ser imediatamente morto pelas quimeras. Vocês devem obedecer e escutar o Lúcifer! Ele é o meu representande enquanto me encontro impotente de lhes ajudar. Agora, partirei. Adeus!
Um assobio longo e forte partiu dos lábios de Christine, chamando a quimera da torre do meio. Christine montou nela e sumiu nas nuvens escarlate do Centro. Voltou, finalmente, a Terra.

Sunday, May 27, 2007

Capítulo X - Sentimentos.

Louis encarava o teto furioso. Mesmo depois de mais de três horas, ele ainda não conseguira se acalmar. A imprudência e imbecilidade de Lúcifer tinha acabado de ultrapassar todos os limites, definitivamente. Levar Christine para o Centro naquele estado de fraqueza era o cúmulo do egoísmo. O sol já tinha se posto e o silêncio da noite pesava naquela mansão enorme, ainda mais com o pensamento de que Christine não apareceria a qualquer segundo comentando qualquer coisa ou reclamando que ele estava muito parado, muito quieto, e não falava com ela ou lhe dava atenção. Ele gostava dos verões em que passavam juntos naquele casarão - só os dois, ninguém mais. O pai de Christine vinha nos fins de semana, porque era um homem ocupado. Os dois sempre passavam um longo tempo cavalgando, conversando ou jogando uma coisa ou outra. De vez em quando Christine inventava de ir até o canto favortio dela, e eles ficavam horas e horas apenas sentados um ao lado do outro, admirando o lugar. Ele tinha convivido com ela por muito tempo naquela vida. Sentia falta dela sempre que não estavam juntos, e era torturante pensar que ela estava lá embaixo, apenas com o maldito Lúcifer, e mais ninguém. Aliás, essa era a única parte de estar sozinho que era razoável: ele poderia falar mal de Lúcifer o quanto quisesse, ninguém o ameaçaria de morte por isso. Louis não entendia muito bem porque ela defendia tanto aquele infeliz. E ela o olhava torto sempre que ele contava o que realmente a verdade, e dizia que ele não sabia da metade do que realmente acontecera, e virava as costas. A verdade é que ela não sabia metade do que acontecera, mas julgava saber. Ouvindo passos a escada, Louis levantou a cabeça; era apenas Lorenzo. Voltou a deitar a cabeça nos braços e encarar o teto, imaginando a melhor forma de matar Lúcifer.

- Cadê a Christine?
- No Centro.
- Como assim, no Centro? Ela tava extremamente fraca!
- O iluminadinho agarrou ela pela cintura e desceram os dois.

Lorenzo ficou observando a expressão de ódio incontido de Louis. Tentou se decidir entre o riso e o medo, mas não conseguiu, então resolveu simplesmente sentar-se. O silêncio pesava.

- Louis...
- Sim?
- Posso te perguntar uma coisa que a Christine ainda não se dignou a me explicar?
- Só não te garanto resposta.
- Que seja. Por quê tu e o Lúcifer se odeiam tanto, se foram criados juntos e eram amigos de infância? O que afinal de contas aconteceu?
- Longa história. Mas boa pergunta. Nós nos odiamos por uma rixa, por assim dizer.
- Como assim, uma rixa?
- O que acontece é que o Lúcifer e eu, assim como tu, amamos a Christine. Ninguém pode amar duas pessoas ao mesmo tempo, nem a Christine, então nós tínhamos que lutar pra ver quem chegava primeiro, por assim dizer. Claro, no início a gente levava na esportiva, e defendemos a Chrisrtine da discriminação que ela sofria no Éden juntos. Nós choramos juntos quando descobrimos que nenhum de nós era o dono do coração dela, mas sim o grande anjo reluzente do fogo, o jovem e sábio professor do Éden, o cretino do Michael. Me envergonho até hoje da forma como descobrimos isso: resolvemos ler as anotações dela pra, afinal, descobrir se ela ao menos amava alguém. Nós éramos citados não raras vezes, mas ou como amigos ou como crianças. Ela se irritava com nossas brincadeiras não muito inocentes e nada controláveis, mas sempre falava den nós com carinho em suas anotações. Dava até a impressão de que éramos filhos dela. E isso era o pior. Não demorou muito pra encontrarmos alguma coisa sobre o Michael, o professor dos elementos. Ainda me lembro bem que no início ela o odiava, e discutira com ele muitase muitas vezes. Mas ao longo do tempo as coisas mudaram, por algum motivo que até mesmo ela desconhecia. Nós fuçamos bastante, e descobrimos alguns podres do Michael. Obviamente, resolvemos alertá-la a respeito do "Grande Anjo". Ela não nos deu ouvidos, é claro. Um pouco depois disso, a Christine descobriu que alguém mexera nas anotações dela, e eu fui apontado. Minha cabeça ficou a prêmio. Quando eu perguntei a ela como ela sabia, ela respondeu que uma pessoa tinha lhe contado, e eu deduzi que tinha sido o Lúcifer - ele era o único que sabia da nossa visitinha ao quarto da Christine. Engraçado que ele não tinha mencionado a si mesmo. No mesmo dia, ela brigou com ele por uma coisa qualquer que nós tínhamos aprontado na escola de anjos, trequinho de nada, nós só demos uma rápida olhada no laboratório. Haviam coisas macabras lá. Achei estranho ela não ter vindo brigar comigo. Descobri, mais tarde, que o próprio Lúcifer tinha enviado um bilhete se dedurando.
- Mas ainda assim, porque ele não te mencionou?
- Porque não interessava. Ele me chamou de traidor, na frente da Christine, dizendo que eu tinha dedurado ele. Tinha armado tudo aquilo só pra se fazer de coitadinho na frente dela. Claro, eu não fiquei quieto e falei que ele também era um traidor e estava presente no episódio das anotações da Christine, e que ele não poderia falar de mim. A Christine, furiosa, brigou com ambos, e ficou semanas sem falar conosco. A partir daquele dia, nós nos odiamos.
- Ainda não faz sentido. Por quê o Lúcifer também te odiaria se tu na verdade não fez nada pra ele?
- Porque eu sou uma pedra no caminho dele, entende? Ele pensa que a Christine amaria ele se eu não existisse.
- Ainda acho estranho.
- Não tem nada de estranho. Tudo aqui é perfeitamente compreensível.

Louis, já um tanto irritado com tudo aquilo, foi para seu quarto e lá ficou. Lorenzo, pensativo, resolveu sair e tomar um ar fresco, pra clarear as idéias.

Thursday, April 12, 2007

Capítulo IX - Retorno.

Christine observou a paisagem desolada do lugar que um dia fora ainda mais belo que o próprio Éden. As árvores mortas e sem flores ou folhas, o céu eternamente cinza, o chão infértil de terra batida e o vento frio que soprava, ameaçando nevar. Soltou-se de Lúcifer e abriu asas negras, apressando-se a pousar, para não haver maiores complicações com a sua saúde, que naquele momento era precária. Nenhum Anjo Caído ou alma apontava no horizonte. As lágrimas assomaram-lhe a face e a dor invadiu seu peito; o lugar estava destruído. Christine tentou, em vão, imaginar como estariam as construções do lugar. Se não estivessem em ruínas, certamente já não existiriam mais. Ela fez todo o esforço que pode para que nenhuma lágrima caísse de seu rosto. Lúcifer pousou ao seu lado e baixou a cabeça - ela sabia que ele não podia fazer nada, mas ele com certeza sentia-se culpado pelo estado do Centro. Repentinamente, despontou no horizonte a figura de uma criança. O coração de Christine bateu mais forte: ela sabia bem que criança era aquela. Ela vinha correndo desesperadamente. Enquanto ela se aproximava, chamados começavam a ficar claros. Christine não aguentou - saiu correndo em direção a criança, o máximo que podia. Estando mais próxima, ela podia ouvir a menininha gritando seu nome. Quando as duas se encontraram, o silêncio voltou a reinar e Christine ajoelhou-se para abraçar a pequena. Lúcifer vinha voando atrás.

- Chris... Chris!! Tu voltou! Que saudade! Já tinha gente dizendo que tu tinha nos abandonado pra sempre... Que tu nunca mais voltaria... Que todo mundo ia voltar a pagar pelos pecados que não cometeu... - a garotinha começou a chorar - Eu fiquei tão preocupada! Ninguém quis acreditar em mim! Ninguém acreditou que tu voltaria!
- Isso não importa mais. Eu estou aqui e voltei pra que todos vocês possam voltar a viver com calma.
- Nós tivemos até mesmo algumas invasões. - Lúcifer relatou com um tom sério, e acrescentou, indignado: - O povo tá enfurecido comigo. Não interessa quantas vezes eu tente explicar que não posso fazer nada contra isso.
- Eu também tentei explicar que o Lú não podia fazer nada, mas ninguém nunca me ouve... Dizem que eu sou muito criança...
- Eles são todos muito cabeças-duras, Catharine. Eu mesma nunca consegui convencer a todos de que o Lúcifer não pode fazer nada quanto a situação deles; tudo o que ele pode fazer é manter esse lugar aqui separado da Punição.

A menina de nome Catharine voltou a abraçar Christine. Ficaram dessa forma durante um longo tempo, sob o olhar cuidadoso e aliviado de Lúcifer, até que repentinamente Catharine se levantou e puxou a mão de Christine, levando-a em direção ao horizonte. Christine não sabia exatamente onde estava indo, pois o lugar estava irreconhecível, mas podia ter uma idéia. Ela começou a correr junto com a menina, com o coração doído e ansioso. Esqueceu que não poderia ficar ali por muito tempo; ainda tinha uma vida na Terra, e uma batalha para lutar lá em cima. Apenas correu na direção que Catharine apontava, desesperada para descobrir o que lhe aguardava além do horizonte. Devagar, ergueram-se algumas casas na paisagem, e bem ao fundo, um enorme castelo negro de pedra. Daquela distância era impossível dizer se estariam ou não em ruínas. Tudo que ela podia ver à sua volta era desolação, contrariando as memórias que ela tinha guardado em sua mente.
Christine ainda podia lembrar perfeitamente como o Centro costumava ser: um lugar lindo, mais lindo e agradável que o próprio paraíso. O sol e a chuva se alternavam e, ao meio-dia, gotas de chuva douradas pela luz de um sol radiante costumavam cair. A lua mostrava-se esplendorosa em suas quatro fases, e o céu era sempre repleto de estrelas. O chão era de grama verde, e rosas de todas as cores espalhavam-se nos campos. Árvores cresciam livremente; enormes carvalhos, cerejeiras, jacarandás, palmeiras. Árvores que davam as mais variadas frutas, em sua maioria desconhecidas até mesmo pelo próprio Éden. Arbustos nasciam e neles brotavam as mais belas e cheirosas flores, perfumando o lugar da forma mais perfeita. Nas pequenas vilas e cidadezinhas, as casinhas de pedra eram rodeadas por enormes janelas e com roseiras que cresciam nas paredes, e suas rosas vermelhas que davam proteção ao povo. Tudo isso para compensar a injustiça que tinha sido cometida com alguns. Muitos deles não queriam voar ao Éden por causa das maravilhas que Christine tinha proporcionado à todos eles e aos seus Anjos Caídos. Um castelo de pedra branca erguia-se bem no meio de todo o Centro: ali era a morada de Christine, Lúcifer, Catharine e mais alguns anjos de confiança de Christine. O Centro era protegido da Punição (parte do inferno para onde iam as almas pecadoras) por unicórnios alados, brancos como a luz em sua origem. Tudo lá fora mais belo e pacífico que o próprio Éden, mas agora o Centro estava destruído, porque Christine não pudera ficar ali.
Catharine puxou o braço de Christine, retirando-a de seus devaneios e lembranças acerca do lugar que ela tanto amava. Antes de a imagem da principal cidade do Centro formar-se perante seus olhos, Christine caiu no chão, completamente exaurida pela longa corrida.

Wednesday, April 04, 2007

Capítulo VIII - Dúvida.

Christine acordou atordoada no sofá da sala, ainda um pouco tonta, sem conseguir se lembrar com clareza de tudo que acontecera. Quando sua visão finalmente se tornou nítida, ela divisou as expressões preocupadas de Lorenzo e Louis.

- Tudo bem, Christine?
- Mais ou menos. Parece que usei força demais. Não consigo me lembrar de muita coisa.
- Danos permanentes na memória? - Louis realmente parecia preocupado. Mas também um tanto aliviado.
- Não. Devo começar a me lembrar de tudo em pouco tempo.

Lorenzo saiu da sala sem dizer palavra e sem um motivo aparente. Louis, aproveitando a oportunidade, olhou seriamente para Christine.

- Tenho duas coisas a tratar contigo.
- E por quê não pode tratar na frente do Lorenzo?
- Porque é melhor assim.
- Hum. - Christine ficou durante um longo tempo analisando a face de Louis, concentrada, procurando quaisquer vestígios de uma possível brincadeira em sua expressão. Não achando nenhum, assentiu com a cabeça. - O que seria?
- O primeiro é sobre o Lorenzo. Tu não teve a oportunidade de observar, porque tu estava virada de costas pra ele durante todo o tempo, mas eu não tirei os olhos dele durante a visitinha do "Mika". - Os olhos de Louis brilharam de desprezo perante a pronúncia irônica do apelido.
- E...?
- O Lorenzo me pareceu um pouco estranho. Ele estava bastante amedrontado sim, mas quando o Michael foi atacado, o Lorenzo pareceu sair de si. Os olhos dele saíram de foco e por alguns segundos eu pude ver o espectro de algo que me pareceram asas.
- Asas? Que espécie de asas?
- Não ficou bem claro, mas não eram asas de anjo ou de demônio, tampouco uma junção dos dois, isso eu posso te afirmar com toda a certeza.
- Isso é, com certeza, estranho. Pode ter sido uma simples ilusão tua...
- Talvez. Mas tu sabe tão bem ou até melhor que eu que eu não tenho o hábito de ter "ilusões".
- Investigaremos. Temos que relatar isso pro...

Uma luz negra com o formato de uma rosa surgiu no meio da sala. Christine sorriu.

- ...Lúcifer.
- Alguém me chamou? - Ele sorriu de uma forma divertidamente irônica. Aquele sorriso debochado inerente à sua personalidade.
- Sabe, Lúcifer, é impressionante a tua capacidade de ser inconveniente! - Louis não parecia exatamente contente com a chegada do "Grande Imperador".
- Por quê? Tu por um acaso ia declarar o teu amor infinito não correspondido pela Christine? - Apesar da expressão divertida de Lúcifer, Louis parecia a ponto de ebulição.
- Não que o que tu sinta por ela seja correspondido...

Faíscas saíram da discussão, quando Christine levantou severamente e os interrompeu com um olhar cortante e assassino. Cambaleou logo depois, mas um tapa em cada um deixou bem claro que o primeiro que encostasse nela teria problemas. E o segundo também.

- Mais uma discussão imbecil dessas acerca de mim ou que me envolva, e é bem provável que eu parta os dois ao meio, e vocês sabem que eu não estou usando metáforas. - Lúcifer e Louis baixaram a cabeça imediatamente, como cães acuados. - Lúcifer, o que tu viestes fazer aqui?
- Nossa, que recepção! - Lúcifer fez uma cara dramática. - Se não quiser que eu suba, tudo bem, eu não subo... - Ele foi virando as costas e saindo, mas desistiu depois de perceber que Christine não moveria um dedo para impedí-lo. - ... nem por um capricho, Chris?
- Não.
- Vossa Majestade é má. - Lúcifer se encolheu quando olhou nos olhos dela. Christine repetiu a pergunta, separando as sílabas.
- O que tu viestes fazer aqui?
- Te avisar que eu preciso urgentemente de ajuda.
- Pra quê? Onde?
- No Centro.
- Ué, não eras tu o "Grande Imperador"...?
- Até tu despertar, era!
- Vossa Majestade é um incompetente. Eu não posso descer, usei muita força e me sinto altamente fraca.
- Força em quê? - Lúcifer se expremeu em uma cara desconfiada.
- Longa história.
- Hum. Tu tem certeza de que não consegue?
- Não dá pra abrir o portal. Se eu abrir, caio morta do outro lado.
- Ah, não seja por isso.

Antes de Louis ou até mesmo a própria Christine conseguirem esboçar qualquer reação, Lúcifer pegou a garota pela cintura, abriu o portal e, com ela, desceu até o Centro. Louis espumava de raiva quando o portal se fechou bem à sua frente.