. Rosas & Lírios: o céu e o inferno entraram em guerra. As armas? Almas humanas.

Um blog que tem sempre uma história rolando. A história atual é Rosas & Lírios, um conflito entre o céu e o inferno pela liberdade e pela posse do universo.

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O sol é minha enegia e o calor, meu combustível. O céu azul é meu sorriso mais eterno, e as penas de minhas asas foram esparramadas ao redor do teto do mundo; são as nuvens, às vezes brancas e puras, às vezes negras e corruptas. Não pude aprender a amar o frio, a noite ou a chuva - e no entanto, eles me amam mais que a tudo. E seus presentes são sempre as palavras.

Monday, February 12, 2007

Capítulo II - Memórias.

- Uau!! Cara, como foi que fizeram isso aqui?
- Na verdade foi bem simples. Fui eu que projetei, meu pai mandou construir.

Lorenzo estava boquiaberto. Christine sorriu, tanto por dentro quanto por fora. Ela tinha desenhado aquele lugar e pedido para que o seu pai o criasse naquele canto ali. Seu pai, além de ter ficado muito impressionado com o gosto peculiar de uma criança de 10 anos, sobre a mistura de pedra branca com rosas vermelhas ao ar livre, tinha gostado muito da idéia. Christine normalmente ficava por ali ouvindo música, lendo, escrevendo ou até mesmo cantando. As amigas até achavam o lugar bonito, mas tinham preferência pela sala com a lareira, ou o campo, em dias quentes. A única pessoa que gostava dali tanto quanto ela era...

- Uhh, que raridade, Christine aqui com mais alguém.
- Louis! - Christine correu aos braços do garoto, estava morrendo de saudades dele. Ele a abraçou e a girou no ar. - Ah, qual é, a gente passou uma boa parte do verão passado aqui.
- Mas eu sou eu, sim?
- Convencido.
- E aí, Lorenzo? Tudo bem?
- É... Tudo bem sim...
- Enfim, agora temos um problema.
- E qual é ele?
- Eu não tenho três cavalos.
- Mas teu pai tem mais três, no total dá cinco, e ele nunca te nega nada.
- É, é verdade.
- Olha, Christine, eu...
- ... preciso falar contigo. - Os dois se surpreenderam. Fazia algum tempo que não falavam juntos. - Pois é, é um assunto bem sério.
- Olha, eu ainda não arrumei minhas malas, eu vou lá.
- Ok.

Christine ficou assistindo Lorenzo se afastar com a expressão já decepcionada. Resolveu esperar até que ele sumisse na casa, ter certeza de que ele realmente tinha ido arrumar suas malas, pois o que ela tinha a tratar com Louis era muito sério. Um pouco depois de Lorenzo finalmente sumir na porta distante da casa, certa de que não havia como ele ouvir a conversa, Christine olhou para o ambiente que ela havia criado aos dez anos. Era um "carramanchão" - nome que ela detestava -, lugar com quatro colunas de mármore branco, com roseiras que cresciam por estas colunas e se fechavam formando uma espécie de teto. Ali só haviam rosas vermelhas. Abaixo das rosas, um piso também de mármore, mas mármore creme, e balanços/bancos de madeira pintada de branco. Ela gostava muito dali. Sentou-se em um dos dos balanços e fez sinal para que Louis sentasse à sua frente. Ele obedeceu ao sinal e ficaram a fitar-se durante um longo tempo.

- O que eu tenho pra falar contigo é realmente muito sério. É sobre memórias.
- Memórias nossas?
- De certa forma.
- Explique-se.
- Eu não sei se aconteceu o mesmo contigo, mas dadas as circunstâncias, eu imagino que tenha acontecido. A questão é que eu tive sonhos, como se fossem memórias repentinas, acompanhadas de uma compreensão sobre duas marcas que eu tenho no meu corpo. Eu sonhei com a minha, ou melhor, a nossa vida passada.
- Sim, eu te entendo, Christine, também tive sonhos do gênero, que explicaram algumas coisas sobre mim.
- Tu já chegou a sonhar sobre as marcas?
- Não. Nem sei do que tu tá falando.
- Então, eu vou te explicar. Tenho certeza que enquanto eu for te explicando tu vai te lembrar. Eu nunca te falei sobre isso, Louis, mas eu tenho duas marcas no corpo, que são particularmente estranhas: uma, no ombro direito, se parece imensamente com um lírio; a outra, no ombro esquerdo, se parece muito com uma rosa.
- Que estranho. Eu tenho um lírio. No ombro direito, também. Isso tem alguma ligação?
- É claro que tem. Eu me intriguei durante muitos anos com essas marcas, mas meus sonhos tem me explicado elas. Aliás, as tuas memórias, pelo que eu vejo, não estão completas. Mas tu sabe de bastante coisa, sem dúvida. As tuas asas estão bem nítidas pra mim. Enfim. Nas tuas memórias, tu provavelmente te lembra que o céu e o inferno foram criados pelos homens, que precisavam separar as almas humanas boas e as ruins. Deus costumava viver entre os homens e no início do mundo tudo era muito calmo, mas Deus jamais foi assim tão onipotente - os homens assim passaram a crer quando o céu foi criado, tornando-o dessa forma onipotente. Então, quando a população começou a se esparsar demais, o Senhor começou, muito a contragosto, a perder o controle sobre os homens, que começaram a seguir caminhos diferentes e "tortos", por assim dizer. Os homens morriam, mas como não existia céu nem inferno por falta de necessidade dos mesmos, ficavam a vagar pela Terra e observar os vivos. O problema é que os mortos que não tinham um bom caráter passaram a incomodar e causar problemas sérios no dia-a-dia dos vivos, plantando palavras de discórdia em seus ouvidos e suas bocas. Por causa disso, foi criado o inferno. Depois, Deus sentiu que precisava ver as coisas mais... de cima. Então o Éden tornou-se realidade e Deus onipotente, por vontade dos homens.
- Tá, tá ok, tudo isso eu já sei. Onde começa a parte das marcas?
- Se tu não tivesse me interrompido eu estaria chegando lá agorinha mesmo. Deus sentiu-se sozinho no Éden, porque o tempo lá passava muito mais devagar que na Terra, pra que Deus podesse, afinal de contas, observar tudo com calma. Além do que, seria muito cansativo vigiar a Terra sozinho. Então foram criados os anjos, que nasciam todos com asas e a primeira flor que Deus criara na Terra marcada no seu ombro direito: o Lírio. Isso era feito pra diferenciar os anjos dos humanos, pois estes eram iguais, excetuando-se as asas e as marcas.
- Mas as asas não seriam o bastante pra diferenciar um anjo de um humano?
- Não. Os anjos não passavam o tempo todo com as asas abertas, porque apesar de serem órgãos espirituais, exigia algo de esforço mantê-las abertas, e asas ocupavam espaço também. Então, as marcas eram sim necessárias pra diferenciação.
- Tu... também era um anjo, não era?
- Sim. - Christine abriu as asas brancas, cegantemente brancas, mas manchadas de sangue em alguns pontos.
- Mas e a tua marca de rosa?
- Ela vem do...
- Eu sempre soube! Sim, eu sempre soube que tu era um anjo, Christine! Agora eu vi! Eu pude ver! - Christine, assustada com a chegada repentina de Lorenzo, fechou rapidamente as asas. Seu segredo tinha sido descoberto.